Enquanto não escrevo nada de novo, posto aqui algumas coisas das antigas. Este poema é de 2000. Abraços
Nasceu embrulhada em um pedaço de manhã
Dilatando fragrâncias
Despertando sonhos inexatos.
Nasceu coberta por um véu de carícias
Abrindo abismos de calor,
Conduzindo aventuras e medo.
Nasceu derramando ternura
Destilando encantos
Compondo vertigens.
Nasceu no regato
Por onde escorre meu sofrimento.
E ainda nasce eternamente
Nas palavras que escrevo
No tempo que resta
No saboroso desassossego
Do poeta.
sábado, 30 de maio de 2009
segunda-feira, 25 de maio de 2009
Crônica do dia
“Hoje eu acordei com um elefante sentado no peito”. Era assim que eu ia começar a minha crônica de hoje. Provavelmente descreveria o dito cujo - com suas orelhas imensas e pesadíssima invisibilidade.
O cronista – no caso, eu - seguiria com mais um festim de lugares comuns, talvez usando expressões bregas como “caminhar pela cidade azul sem olhar o outono”.
Lá pela metade do blábláblá, falaria um pouco da minha mãe, diria coisas boas e ruins dela - ou coisas bobas - do tipo “era consumista” ou “amava chafarizes”. Você, leitor, talvez chegasse a Freudianas conclusões, Édipos para lá, Jocastas para cá...
No último parágrafo, a confissão dos microproblemas do dia a dia, a alegria de ver chegar a geladeira na nova casa, a compra do primeiro sofá e da primeira mesa de cozinha.
Talvez nas entrelinhas eu deixasse transparecer uma dor qualquer, uma saudade espinhenta pelos que partem com a morte ou pela vida.
Talvez escapasse por aí um certo rastro de rancor, alguma marca de violência mal encoberta...
E, no fim, depois do ponto final, uma margem inteiramente branca só para o amor.
O cronista – no caso, eu - seguiria com mais um festim de lugares comuns, talvez usando expressões bregas como “caminhar pela cidade azul sem olhar o outono”.
Lá pela metade do blábláblá, falaria um pouco da minha mãe, diria coisas boas e ruins dela - ou coisas bobas - do tipo “era consumista” ou “amava chafarizes”. Você, leitor, talvez chegasse a Freudianas conclusões, Édipos para lá, Jocastas para cá...
No último parágrafo, a confissão dos microproblemas do dia a dia, a alegria de ver chegar a geladeira na nova casa, a compra do primeiro sofá e da primeira mesa de cozinha.
Talvez nas entrelinhas eu deixasse transparecer uma dor qualquer, uma saudade espinhenta pelos que partem com a morte ou pela vida.
Talvez escapasse por aí um certo rastro de rancor, alguma marca de violência mal encoberta...
E, no fim, depois do ponto final, uma margem inteiramente branca só para o amor.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Soneto para a Vampira Clarimonde
“Vous me demandez, frère, si j’ai aimé ; oui.
C’est une histoire singulière et terrible…”
“Você me pergunta, irmão, se amei; sim.
É uma história singular e terrível...”
La morte amoureuse
Théophile Gautier (1836)
“Você me pergunta, irmão, se amei; sim.
É uma história singular e terrível...”
La morte amoureuse
Théophile Gautier (1836)
Nego-me a existência, Clarimonde,
E desfio o cotidiano com apatia,
Levando-te sonâmbulo dia-a-dia
Sob os olhos na insônia afogados.
Se é por ti toda fé que em mim havia,
Dar-te-ia sem receio, o braço,
Para o sangue transformar-se em pasto
Desta boca que explora vidas.
Seguiriam por teu colo enluarado
As fremidas noites de orgia
Que a lembrança já me faz cansado.
De tua pele eu faria meu sudário,
Remetendo toda morte à alegria
E a santa eternidade ao caralho.
E desfio o cotidiano com apatia,
Levando-te sonâmbulo dia-a-dia
Sob os olhos na insônia afogados.
Se é por ti toda fé que em mim havia,
Dar-te-ia sem receio, o braço,
Para o sangue transformar-se em pasto
Desta boca que explora vidas.
Seguiriam por teu colo enluarado
As fremidas noites de orgia
Que a lembrança já me faz cansado.
De tua pele eu faria meu sudário,
Remetendo toda morte à alegria
E a santa eternidade ao caralho.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Epopéia Euclideana
Os últimos meses foram de dedicação quase exclusiva para o ambicioso projeto Quatro Cantos de Euclides, pela Caraminholas, filho de uma iniciativa muito maior, o movimento “100 anos sem Euclides” http://www.projetoeuclides.iltc.br
Só agora tenho cabeça para divulgar um pouco deste trabalho aqui no blog. A idéia inicial era a de criar um livro infantil sobre a vida e obra do escritor fluminense. Só isso já faz do desafio enorme, afinal, todos sabemos que a obra de Euclides é difícil tanto na forma quanto no conteúdo, e sua vida um desastre a parte.
Para complicar mais um pouquinho, decidi escrever o livro em forma de canções, com ritmos bem brasileiros. Foi assim que, aos poucos e depois de muita pesquisa, nasceu o maculelê que abre a narrativa; o samba de roda que conta o início da vida do autor (canto I); o Baião, para Os Sertões (canto II); a moda de viola para a epopéia amazônica (canto III) e a ciranda para o fim da trágica vida (canto IV).
Mas as coisas não param por aí. O desafio foi para a estratosfera quando o Coletivo Sala Preta aceitou coordenar um grupo de mais de 60 atores para dramatizar o livro pelas ruas de Paraty durante a Flip deste ano, na noite do dia 03 de julho.
É grande a ansiedade de todos e muito trabalho pela frente. Esta semana tive a felicidade de escutar as primeiras gravações das músicas, e já começam a surgir também as ilustrações do livro, pelas mãos do grande parceiro Miguel. Como complemento às canções da obra, terminei ontem os textos que serão encenados no espetáculo, e mais uma canção foi feita, uma ladainha, que vai ser entoada durante o deslocamento das pessoas pelos diversos cantos da cidade. Aí está ela!
Ladainha, ladainha!
Ê, voz de quem caminha!
Leva a palavra pra perto
Desse céu que reflete o deserto!
Ladainha, ladainha!
Ê, voz de quem caminha!
Leva contigo o cansaço
Desse peso de terra nos braços.
Ladainha, ladainha!
Ê, voz de quem caminha!
Rogai por nós a alegria
Só agora tenho cabeça para divulgar um pouco deste trabalho aqui no blog. A idéia inicial era a de criar um livro infantil sobre a vida e obra do escritor fluminense. Só isso já faz do desafio enorme, afinal, todos sabemos que a obra de Euclides é difícil tanto na forma quanto no conteúdo, e sua vida um desastre a parte.
Para complicar mais um pouquinho, decidi escrever o livro em forma de canções, com ritmos bem brasileiros. Foi assim que, aos poucos e depois de muita pesquisa, nasceu o maculelê que abre a narrativa; o samba de roda que conta o início da vida do autor (canto I); o Baião, para Os Sertões (canto II); a moda de viola para a epopéia amazônica (canto III) e a ciranda para o fim da trágica vida (canto IV).
Mas as coisas não param por aí. O desafio foi para a estratosfera quando o Coletivo Sala Preta aceitou coordenar um grupo de mais de 60 atores para dramatizar o livro pelas ruas de Paraty durante a Flip deste ano, na noite do dia 03 de julho.
É grande a ansiedade de todos e muito trabalho pela frente. Esta semana tive a felicidade de escutar as primeiras gravações das músicas, e já começam a surgir também as ilustrações do livro, pelas mãos do grande parceiro Miguel. Como complemento às canções da obra, terminei ontem os textos que serão encenados no espetáculo, e mais uma canção foi feita, uma ladainha, que vai ser entoada durante o deslocamento das pessoas pelos diversos cantos da cidade. Aí está ela!
Ladainha, ladainha!
Ê, voz de quem caminha!
Leva a palavra pra perto
Desse céu que reflete o deserto!
Ladainha, ladainha!
Ê, voz de quem caminha!
Leva contigo o cansaço
Desse peso de terra nos braços.
Ladainha, ladainha!
Ê, voz de quem caminha!
Rogai por nós a alegria
Que alivia esse exílio na vida.
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