quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Inté

Queridas e queridos,
Comecei este blog quase como recurso terapêutico, quando passava por um momento muito escuro na vida. Esta foi a minha primeira (e grande) experiência no mundo internético, e dela tirei muita coisa boa.
Afora às idéias dos textos que publiquei, aprendi uma coisa vital: o virtual não existe.
Tudo o que se passa na telinha do nosso computador quando estamos ligados à internet é real.
Quando conversamos com alguém pela internet, tocamos pelas palavras alguém real do outro lado.
É um ensinamento antigo e básico, que se aplica num blog, e-mail, carta, conversa, twitter, comentário... Muito cuidado com suas palavras!
Foi neste mesmo espaço de blog - que construí para ser um lugar de troca benigna, cura e amor – que fui vitima da irresponsabilidade de pessoas covardes que ainda não aprenderam a conduzir suas palavras (ou a assumir seus atos).
O caso foi sério. Este é um semi desabafo. Um dia, quem sabe, publico a história toda em livro ou peça.
Bom, o fato é que a energia pesou por aqui. Por isso, este é o meu último post no Cascabulhices.
Mas isso não quer dizer que minhas experiências acabaram! Aos poucos vou migrar uma seleção de textos para o blog da minha página pessoal, e também publicar coisas novas!
Acompanhem: www.thiagocascabulho.com.br
Beijos e abraços

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Brasil da discórdia

Éris, o espírito da discórdia, estava entediadíssima. Cansou-se das longas férias que Zeus, senhor do universo, impôs aos deuses do Olimpo, há cerca de dois mil anos.
Tentou de todas as maneiras convencer seu marido Ares, deus da guerra, a descer com ela novamente ao planeta terra para infernizar a vida dos homens. Mas Ares, que era um grande covardão e morria de medo dos raios de Zeus, não deu a mínima bola para os pedidos dela e continuou sua brincadeira com soldadinhos de chumbo feito por Hefesto, seu passatempo preferido nos últimos tempos.
Enfurecida, foi consolar-se na margem do Estige - o rio que separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos – e escutar as velhas histórias que seu amigo Caronte, o barqueiro, contava sobre as almas penadas. Éris adorava histórias de terror.
Foi quando viu passar por ali o herói Héracles, o grandalhão mais forte de todos os tempos (mas burro feito uma porta), carregando sua grande clava cheia de espinhos. Éris teve a idéia de usá-lo para finalmente poder deliciar-se com mais uma quizomba entre os mortais.
Aproximou-se do brutamontes e mentiu que a grande Hera, esposa perversa de Zeus, lhe obrigava a realizar mais uma tarefa na terra, como complemento aos doze famosos trabalhos que realizara no distante passado. Afinal, treze é um número da sorte mais na moda.
Como Héracles era realmente muito burro e não desconfiava de ninguém, confiou na conversa fiada de Éris e aceitou. Pulou no primeiro Pégaso que cruzou os céus e desceu destrambelhado para cá. Isso mesmo, leitor amigo. Héracles aterrissou no Brasil.
A tarefa: desviar o rio Tietê e transformar a cidade de S. Paulo em uma grande poça d’agua. Éris mal esperava para fazer os humanos perderem suas casas! Que bela confusão seria! Para Héracles, que desviou dois rios para limpar os estábulos do rei Augias, como contam as histórias da mitologia, isso seria moleza.
No entanto, antes de iniciar sua missão, Héracles achou melhor conseguir uma roupa nova, já que estava sem a sua capa feita com a pele do leão da Nemeia – e morrendo de frio, peladão debaixo daquela garoa fina!
Farejou uma onça no zoológico municipal, e já estava atracado com o bicho para arrancar sua pele quando a polícia chegou. Héracles acabou preso por maltrato aos animais e atentado ao pudor.
Para grande tristeza de Éris, quando Héracles conseguiu escapar da prisão, S. Paulo já estava inundada por conta de muitos bueiros entupidos com sacos plásticos e um mês de chuvarada.
Mas Éris era teimosa e não desistiu de suas maldades. Obrigou a Dédalo, maior arquiteto que o mundo antigo já conheceu, a descer ao planeta terra e construir um labirinto tão grande quanto o do Minotauro. O plano de Éris era fazer com que homens e mulheres passassem uma eternidade perdidos no labirinto. “Quanta desarmonia isso vai causar!”, gargalhava a deusa.
Dédalo também desceu na cidade de S. Paulo, e foi logo pegando um taxi para conhecer os arredores e começar a traçar a planta de seu novo labirinto. Depois de quatro horas preso em um engarrafamento – que lhe custou uma fortuna e toda sua paciência, saiu do carro abobalhado e perdeu-se para sempre pela grande cidade. Dizem que desceu na estação do metrô da Consolação, pensando ser lá o caminho para o mundo dos mortos, mas isso não posso afirmar.
Abaladíssima com mais um fracasso, Éris foi fofocar com sua melhor amiga, Pandora, esposa de Epimeteu. No passado, esta mulher curiosa abriu o jarro onde o Titã Prometeu escondeu os insetos da cobiça, inveja, ciúme e ira, espalhando grande confusão aos sete cantos.
Para consolar a amiga – e muito curiosa para conhecer aquele país estranho – tratou de descer ela mesma em busca de novas idéias de maldade para Éris. Pediu emprestado as asas de cera do menino Ícaro e lá foi ela aterrissar no meio de um grande planalto no centro do país, justamente na capital do Brasil: Brasília.
Como era muito bonita e comunicativa, Pandora logo fez amizade entre os círculos de políticos de todos os partidos, no senado, na câmara e no palácio do planalto. Aos pouquinhos foi se interando dos segredos que os homens escondiam e de todas as maldades que emanavam dali.
Depois de uma semana sem receber respostas da amiga, Éris mandou o gigante de um olho só, Ciclope, resgatá-la em Brasília. Ao presenciar tantas vigarices na capital do Brasil, Pandora voltou ao Olimpo em estado de choque e ficou para sempre feito a Ninfa Eco, repetindo com os olhos vidrados só a última palavra da frase dos outros. Quanto ao gigante Ciclope, fiquei sabendo que voltou ao mundo mortal e fez muitas amizades entre os fãs de X-Men.
Como último recurso, Éris decidiu ela mesma descer à Terra para castigar a humanidade. Depois de tantos planos furados, não temia mais os castigos de Zeus por quebrar sua lei divina. Confiava que seu velho truque do pomo da discórdia não falharia. Lá foi ela, feito um raio, brotar no meio da bela cidade do Rio de Janeiro.
Lançou seu pomo dourado, tão cobiçado no passado, em uma aglomeração de gente na frente de uma lanchonete. Para o desespero de Éris, as pessoas nem viram sua maçã encantada. Continuaram em alvoroço pedindo seus hambúrgueres e batatas-fritas, com seus telefones celulares ou mp3 nos ouvidos.
A deusa não aguentou tamanho desprezo e apanhou o Pomo da discórdia do chão, oferecendo-o pessoalmente às pessoas. “Eis aqui o sagrado Pomo Dourado, boa gente, quem vai lutar por este tesouro?, gritou ela, esganiçada. Entre os poucos olhares curiosos, uma menininha no fim da fila tomou a maçã da mão da Deusa e, depois de uma mordida, cuspiu de cara feia: “Cara, isso aqui é ruim pacas, tia!”
Não preciso dizer que Éris finalmente se mancou e voltou correndo para seu palácio no Olimpo. Descobriu em sua visitinha, nos programas de TV e nos jornais humanos, que o mundo não precisa mais dos deuses gregos ou romanos para infernizar as idéias. Afinal, já temos discórdias suficientes.
Foi assim que Éris, a antiga deusa da discórdia se aposentou de vez. Esta história foi aquele Ciclope que me contou – somos amigos no Facebook. Segundo ele, Éris finalmente encontrou a felicidade: levou para seu palácio no Olimpo um aparelho de televisão, e deve estar rindo agora lá em cima, assistindo de camarote as trapalhadas que os homens fazem a si mesmos.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Franguinho

Quis se vingar, mas recuou. Palavras nas mãos.
Pensa, pesa. Inventou na hora que a vingança também pode ser um ato de amor. E ele ama.
Lembrou-se de tudo.
TUDO.
Por isso o movimento de agora. As mãos descem.
Bisturis. Frases.
O corte deixa a fruta aberta. Ironias do gesto.
Aproxima bem a boca da polpa amarela. Covarde. Humanamente covarde.
_ FRANGUINHO! SEJA HOMEM E SE ASSUMA!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Ménage

Não te quero canastra, Ás de Espadas,
A limitar as cartas como um muro.
Minha dama sonha em também ser vossa
Sem fazer paga de qualquer tributo.

Deixe que os reis entendam como troça:
Três espadas cortam melhor que duas...
Espera o soberano dar as costas
Para à mesa estarmos todos nós juntos.

Ditaremos as regras do Buraco...
É só jogando que o amor tem sorte!
Justificam-se as Copas dos meus atos.

E depois, quem sabe, Valete e Dama,
Abram também espaço pela cama
Para que você durma no baralho.




terça-feira, 20 de julho de 2010

Poema no espelho

Por detrás das minhas costas
Existe um reflexo que não vejo.
É lá, onde a luz parece morta,
Que brilha algo novo no espelho.

Apague as luzes de tua casa!
É a escuridão que engana o vidro...
Para que um mundo de imagens
Quando há tanto no vazio?

De tudo não há nada mais preciso:
A razão é muito fraca de sentidos.
Permito-me aos olhos do desejo...

É ele quem dita seus relevos!
Abro a porta, viro os ombros, sigo...
Translado minha idéia ao infinito.

sábado, 10 de julho de 2010

Novidades

Amigos e amigas deste blog,

Desculpem pelo silêncio, mas tenho uma boa justificativa! Passei os últimos meses produzindo o meu site pessoal. Lá vcs poderão ver que estou envolvido em muitos projetos, que tomam todo o meu tempo. Mas prometo novos textos agora no segundo semestre! Vai muito bem a produção do meu novo livro "Buriti Viola"! Aguardem!

Aí vai o site! Comentem, divulgem!
http://cascabulho.wordpress.com/

Bjs e abs

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Site Caraminholas

O site da Caraminholas Produções entrou no ar hoje.
http://www.caraminholas.com/

Vejam e divulguem!

Bjs e abs

domingo, 9 de maio de 2010

Haicai de maio

shampoo no olho
direito é desculpa:
Riso esquerdo.

domingo, 25 de abril de 2010

Texto antiiiiiiiigo

(*)Ja que faz um tempao que nao escrevo por aqui, que tal dar uma passeada em um texto antiiiiiiiiiiiigo que encontrei entre os escombros? Inte!!


Aí vem você com mais uma porta e eu digo que não tenho medo de portas, muito menos de abri-las, mas, você sabe muito bem, to cansado de tanta novidade, tanta emoção nova... quero um pouco de velhice pra minha vida, um pouco de música antiga, rock quadrado, twist, samba de breque. Mas você cisma em voltar com o papo de portas abertas, portas imensas, cheias de flores esculpidas, portas pequenas, brancas e herméticas e solitárias em salas verdes, portas que levam até outras portas... Aí eu pergunto pra-que- tanta-porta-meu-deus, se o que quero é ficar sozinho em uma sala toda branca, eu também de branco e quem sabe até mesmo você com um vestidinho safado, curtinho, branco que pede pecado, cantando baixinho aquela música da Clara Nunes, evocando todos os santos para um sono gostoso (que é só o que importa) nesta sala branca de nada.... eu e você e a música de Clara, e sem portas de saída.

Mas no meio de tanta confusão, tanto melodrama, pena, e angústia inventada, porque toda a angústia é uma invenção, eu digo e é verdade, somos presunçosos mesmo, só pensamos na nossa saúde, no nosso prazer, é na nossa cama que pensamos, e no nosso travesseiro branco. Somos presunçosos de existência, conseguimos escutar só o que as histórias dos outros tem de nossas histórias. Então tá bom. Vamos falar de portas. Já que você quer tanto, ta bom, ta bom, já to fechando os olhos... não fica com essa cara de brava, já to fechando os olhos, não vou sacanear a sua brincadeira não tá? E agora? Ah, é pra falar... tá, to na frente de uma porta grandona, assim, uma porta de madeira de lei, tão grande que vai até um teto amarelo, que de tão alto dá vertigem. O quê, é pra abrir? Ta bom. A maçaneta é dourada... ta, eu sei que é lugar comum maçaneta dourada, mas deixa em inventar, eu que to imaginando e se tenho pouca imaginação não tenho culpa disso... bom, a porta é tão pesada que não to conseguindo abrir direitinho... só uma fresta... pronto agora posso passar... entrei.

Um dia sonhei que nós só podemos ser felizes dentro de um sonho. Uma velha parecida com uma bruxa de desenho animado da disney, sabe daquelas que dava medo, mas não qualquer medo não, um medo que é quase tesão, seilá, então, essa velha apareceu num sonho que não era bem um sonho, mas como se fosse um intervalo entre dois pesadelos. No primeiro eu percebia que não tinha mais ninguém em casa, nem o cachorro, minha mulher também não tava, não tinha comida na geladeira e tava um frio danado aí quando tava começado a ficar desesperado o pesadelo acabou e sem acordar aparece esta velha me dando a mão, mas não tive medo nem tesão. Ela me deu de presente uma manga bonita bonita... e você deve ta pensando que errei de história, que a velha devia ta me dando uma maçã e não uma manga, mas é que eu adoro maçã e não gosto de manga, deve ser o trauma que tive uma vez, quando fui com meu pai e um tio que tinha barco pra uma ilha cheia de manga e borrachudo, aquele mosquitinho que ferra doído... e na volta comi tanta manga que pintei o barco todo de amarelo e criei um trauma tão grande que nunca mais consegui sentir o cheiro da danada. Mas a manga da bruxa não tinha cheiro. Depois disso começou outro pesadelo, com provas de matemática intermináveis e uma música baiana tocando do lado de fora, não que eu ame música baiana, longe disso, eu detesto... ta, pode dizer que não acredita, mas essa música tava me chamando pra dançar e eu só imaginava mulatas, loiras e ruivas suadas mas só via a maldita prova de matemática. A gente passa o primário todo os professores falando na nossa cabeça que não existe raiz de número negativo, passamos o ginásio todo com isso na cabeça aí chega o segundo grau e algum gordo fedido, que não deve conseguir ver o pau por causa da barriga diz que a porra da raiz quadrada do número negativo é “i”. É isso mesmo. Raiz de número negativo é “i” putaquepariu!

Acordei. Pronto. Não quero mais falar mentiras. Não quero mais falar de mim. Você ta com uma cara estranha, parece que nem me conhece, parece que agorinha mesmo não tava pensando na gente, no que vai acontecer, no que você quer, no que você sente... Essa sua idéia de abrir portas até que é uma boa idéia, amor, mas você não acha que a gente pode inventar alguma coisinha bem inventada, assim, tipo um fim de semana todo na praia, caipirinha e um montão de “nossas verdades”, que é só com elas que vamos pra frente? Escuta? Não ta escutando? A Clara ta cantando afinal ...

segunda-feira, 29 de março de 2010

Golondrina

Todavia amaré una golondrina
Como amo a tu nombre
Bajo la palavra cielo.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Arranhão

Em breve tempo - lá vai o vento, lá vai...
Leva as palavras, leve... Uma a uma
Ladrão! Lento a me sorver vogais,
Lança consoantes em lacunas...

Lá vai o vento! Passa sem querer demais,
Lá vai! Languido laçador de chuvas...
Sanguessuga! Lambe lindos temporais
E deixa ternas expressões viúvas.

Secas folhas... Brancas laminas...
Lanham as costas tão sem culpa!
Lá vai o vento, lá vai, lá vai...

Vai o logo converter-se em espuma?
Lá vai o vento enquanto... Lá vai...
Latejo novamente em tuas unhas.

sábado, 20 de março de 2010

Documentário Projeto Douradinho 2009

http://www.youtube.com/watch?v=W7eaR_tg0sE

terça-feira, 16 de março de 2010

Porvires

Em resposta ao amigo, poeta e confrade Léo Seixas,
que me viu no poema Última Página, de Olavo Bilac,
ao qual me reporto, em réplica, nesse soneto;
e à Dama das Chuvas Érica Alves.

No horizonte formam-se cascatas
De porvires que anunciam os textos.
Sinto mãos de uma cigana, pondo cartas...
Escrevo ao destino em meus sonetos.

É de eterno retorno este afeto,
Que me transcreve estações do ano:
Se lambidas vagas molham o inverno
É que vagões repletos gozam outonos.

É excitante o amor pelas palavras...
Será o único? A poesia nos explica
Quando versifica o futuro em sua lavra.

Se a palavra os sentimentos liga...
Quanto amor constelará nos mapas
Se de paixão a minha vida é rica?

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A volta da alegria de Orfeu

Venha sentar-se comigo, Eurídice,
Na Praia Vermelha... Ver o mar...
Verdades foram ditas nesta beira,
Mas tristezas, de minha lira, já não há.

Faz anos que partimos para longe...
Na distância que o rio nos separa
De repente com palavras uma ponte
Une as pontas onde não se vadeava.

E agora, na tranquilidade do estar,
Seja à sombra ou seja à luz do dia,
Vou cantar sem apatia toda a vida.

Quero ver a alegria da surpresa
Nos teus olhos, quando a música evocar
Uma roda de samba de sereias!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Um encontro

Sinto as mãos forçarem a máscara, tapando meus olhos. Ainda é manhã pelas frestas dos dedos. Seguro os pulsos no equilíbrio. A festa arrasta-nos para a música.

Há um sol nos braços finos. Meio passo para frente, um esbarrão pela direita... A sandália resvala paralelepípedos. Talvez, talvez uma boca me chega aos ouvidos: Desculpa... como quem diz não olhe para trás.

As mãos descortinam a multidão. Giro incompleto, sonâmbulo. Chega de algum canto a canção. Mas os braços somem, para sempre, nos paetês.

O Canto da Liberdade (Djalma A. Cascabulho)

Amigos, redescobri outro dia nas minhas coisas uns documentos, fotos e poemas do meu avô Djalma Cascabulho. Boêmio das noites de Madalena, Campos e Paraty, deixou pouquíssimos poemas escritos– a maioria de qualidade estética duvidosa, pelo menos para mim. No entanto, ao visitá-lo nas memórias de amigos e parentes, é indiscutível não reconhecer o seu espírito de poeta. Posto aqui os versos que mais gosto, feitos no pós guerra, com toda aquela alegria ufanista e inocente daqueles tempos. Até mais.

Ser livre como um potro bravio!
Relinchar, relinchar e correr,
Saltitante e feliz, a correr, a correr!

Ser árvore!
Acenar, acenar e falar por farfalhos.
Abraçar a alegria da vida em meus galhos!

Ser sol!
Inundar a natureza da luz com meus raios,
Nascer entre as montanhas e atrás delas morrer!

Ser regato!
Deslizar tranquilo e feliz pelas fraldas dos montes,
Em busca dos rios, em demanda do mar!

Ser garoto outra vez!
Jogar bolas de gude, correr pelas ruas,
Trepar pelas árvores, novos frutos colher!
Não pensar mais na vida,
De tudo esquecer!

Estancar esse sangue, que corre da ferida,
Que você machucou sem querer!

Vou subir a montanha,
Vou viver lá de novo,
Vou cantar pro meu povo!

Esse canto sublime
É a voz da montanha,
Resoluta e tão firme
Que à luta me assanha.

Quem sabe ouvirá esse canto que falo,
Ele é firme e constante
Como o canto de um galo!

Venha ver meu povo como gosta de ouvi-lo
Esse canto que é de minha alma um suspiro!
Nele rendo um culto de amor e lealdade:
A Deus, aos homens, às pátrias e à Liberdade!!!

domingo, 31 de janeiro de 2010

Soneto para Marina

“... podia-se vislumbrar sobre a cama uma jovem de luminosa figura, agradável semblante, caráter filosófico numa aparência como a da lua, olhos babilônicos, sombrancelhas em forma de arco, silhueta na forma da letra alif...”

O carregador e as três jovens de Bagdá
Livro das Mil e Uma Noites
Volume I - ramo sírio
Na Aleph encontro cardinais
Sem nenhuma consoante.
É um universo de vogais
Que ordenam dissonantes

Cais de barcos racionais.
Como despedir o branco
De tuas cores decimais
Sem precisar contanto?

Ai, alfabetos ruminantes
Não digerem numerais...
Que cilada, Rocinante!

Mas, se o conjunto abarca
Tanto infinito sem demais...
Que calcularia meu Petrarca?

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Soneto do próximo carnaval

Há tantas serpentes com asas
Nas fazendas das macieiras!
Vai chegar ferida a dentadas
A manha de quarta-feira...

Não! Não é preciso redimir-se...
De bumbo basta o Zé-Pereira!
Bem mais feliz é quem é triste
E na alegria da tristeza esquece.

Se na ilusão a realidade vive...
Veja! Tudo é feito de confete!
Já disse o poeta e o cientista.

Nesse cordão só existe a prece
Que se apressa no reger da vida
E que dela nada leva ou pede.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Salve Jorge!

Amigos, foi sem querer. Antes de entrar na leitura do Julio Cortazar, caiu quase que por acaso na minha mão o romance de estréia do velho orixá Jorge Amado – O país do Carnaval – escrito em 1930. Nunca devorei um livro tão rápido. Agora entendo o fascínio de minha mãe pelo baiano. Que personagens! A construção dos diálogos flui de forma dialética com uma naturalidade impressionante para um jovem de apenas 28 anos. Exatamente a minha idade hoje!
De forma um tanto naive – mas não menos bela – O País do Carnaval procura com seus personagens um caminho filosófico para a felicidade do homem, entre tantas mudanças do Brasil e do mundo no início do século XX.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Crônicas de patrício

Leitores deste blog,

Se vcs gostam de crônicas, recomendo o blog do meu Patrício de Barra Mansa Thiago Panza. Entrem no blog dele, alcroonicas.blogspot.com!!!!!
É realmente um espaço muito bom. No mês passado ele também lançou um livro de crônicas que vale a pena. Dentre elas, destaco aqui a curtinha "Bernardo?", que muito me divertiu.

Inté

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Rosa e outras leituras

Ler Guimarães Rosa é fazer triátlon intelectual. Não é fácil, mas quando se pega o fio da narrativa... Que prazer! Foi assim a minha leitura de Sagarana, conjunto de novelas que consagraram o escritor de Grande Sertão – Veredas. Destaque aí para A Hora e a Vez de Augusto Matraga e para O Burrinho Pedrês, ambos cheios de significados.
Durante as festas de fim de ano saí um pouco da minha lista e li o recém lançado aqui no Brasil Os Filhos de Húrin, de J.R.R. Tolkien. Não é uma obra com o peso do Senhor dos Anéis, mas ajuda a entender a cosmologia criada por esta mente brilhante – além de ótima diversão!
Na poesia ando parado... Alguma sugestão de leitura para recomendar?
Próxima leitura: Jogo da Amarelinha, Julio Cortazar