terça-feira, 9 de setembro de 2008

A Rita

Durou menos de 1 minuto. Saí do hotel sozinho pra desvendar um pouco mais a cidade da Chapada. Não lembro do céu. Sei que fazia frio... Não tinha levado casaco para a viagem. Trinta passos depois, acho que no início da praça, a velha foi direto na minha mão. “Rita Rezadera, fio. Passe lá em casa, viu? Vô te rezá. Ali na casa azul dali, ó, perto da igreja. Todo muno conhece. Passa sim, fio. Rita Rezadera. Te rezo... É de graça, viu?
Tava de azul e verde, mas acho que todas as cores cabiam naquela pele. Levava um lenço na cabeça e me olhou fundo, as mãos duras, cobertas de calos. Agradeci, mas não fui na casa azul. Não precisava mais.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Querias saber do Poeta...

O poema é parte de uma porta
Que só abre quando a tua arte
Cria por pensamento um encaixe
Impreciso e, por isso, transborda.

É na imprecisão que a palavra mora.
Adiante, na disputa do desequilíbrio,
Pendem sete sentimentos por um fio
De sorte nas mãos de quem joga.

Por isso temo, e, só assim, transbordo.
O poema nasce como um acordo
Selado ante a felicidade e o medo.

Sabe-se que tudo – um dia – morre:
Eu, você... Toda menção de aconchego...
Como dói sabê-lo... Escrevo.

Ascensão

Quase seis da tarde. O sol resolveu dar uma última espiadela no Paço Imperial. Passa por ali uma jovem executiva - a sombra comprida ao chão... - de saia bege, mas que poderia ser azul. Vai ziguezagueando árvores, contornando gentes amarradas ao mármore. O anoitecer espera filas cansadas para as barcas.
A jovem vê sem ver o estudante a mirar sua boca, o moleque a paquerar sua bolsa, a secretária a salivar suas coxas. Depois do viaduto, desprende-se do chão; os saltos firmes nos pés livres. Sobe ligeira pelas brisas, vê de cima as árvores tranqüilas, de costas para o engarrafamento na Perimetral. De lá, continua a subir... Some com o fim do dia.
Da Praça XV a multidão olha sem crer – atônito céu de Setembro. Mas, novamente de cabeças baixas, seguem bovinamente pelas catracas.