domingo, 25 de abril de 2010

Texto antiiiiiiiigo

(*)Ja que faz um tempao que nao escrevo por aqui, que tal dar uma passeada em um texto antiiiiiiiiiiiigo que encontrei entre os escombros? Inte!!


Aí vem você com mais uma porta e eu digo que não tenho medo de portas, muito menos de abri-las, mas, você sabe muito bem, to cansado de tanta novidade, tanta emoção nova... quero um pouco de velhice pra minha vida, um pouco de música antiga, rock quadrado, twist, samba de breque. Mas você cisma em voltar com o papo de portas abertas, portas imensas, cheias de flores esculpidas, portas pequenas, brancas e herméticas e solitárias em salas verdes, portas que levam até outras portas... Aí eu pergunto pra-que- tanta-porta-meu-deus, se o que quero é ficar sozinho em uma sala toda branca, eu também de branco e quem sabe até mesmo você com um vestidinho safado, curtinho, branco que pede pecado, cantando baixinho aquela música da Clara Nunes, evocando todos os santos para um sono gostoso (que é só o que importa) nesta sala branca de nada.... eu e você e a música de Clara, e sem portas de saída.

Mas no meio de tanta confusão, tanto melodrama, pena, e angústia inventada, porque toda a angústia é uma invenção, eu digo e é verdade, somos presunçosos mesmo, só pensamos na nossa saúde, no nosso prazer, é na nossa cama que pensamos, e no nosso travesseiro branco. Somos presunçosos de existência, conseguimos escutar só o que as histórias dos outros tem de nossas histórias. Então tá bom. Vamos falar de portas. Já que você quer tanto, ta bom, ta bom, já to fechando os olhos... não fica com essa cara de brava, já to fechando os olhos, não vou sacanear a sua brincadeira não tá? E agora? Ah, é pra falar... tá, to na frente de uma porta grandona, assim, uma porta de madeira de lei, tão grande que vai até um teto amarelo, que de tão alto dá vertigem. O quê, é pra abrir? Ta bom. A maçaneta é dourada... ta, eu sei que é lugar comum maçaneta dourada, mas deixa em inventar, eu que to imaginando e se tenho pouca imaginação não tenho culpa disso... bom, a porta é tão pesada que não to conseguindo abrir direitinho... só uma fresta... pronto agora posso passar... entrei.

Um dia sonhei que nós só podemos ser felizes dentro de um sonho. Uma velha parecida com uma bruxa de desenho animado da disney, sabe daquelas que dava medo, mas não qualquer medo não, um medo que é quase tesão, seilá, então, essa velha apareceu num sonho que não era bem um sonho, mas como se fosse um intervalo entre dois pesadelos. No primeiro eu percebia que não tinha mais ninguém em casa, nem o cachorro, minha mulher também não tava, não tinha comida na geladeira e tava um frio danado aí quando tava começado a ficar desesperado o pesadelo acabou e sem acordar aparece esta velha me dando a mão, mas não tive medo nem tesão. Ela me deu de presente uma manga bonita bonita... e você deve ta pensando que errei de história, que a velha devia ta me dando uma maçã e não uma manga, mas é que eu adoro maçã e não gosto de manga, deve ser o trauma que tive uma vez, quando fui com meu pai e um tio que tinha barco pra uma ilha cheia de manga e borrachudo, aquele mosquitinho que ferra doído... e na volta comi tanta manga que pintei o barco todo de amarelo e criei um trauma tão grande que nunca mais consegui sentir o cheiro da danada. Mas a manga da bruxa não tinha cheiro. Depois disso começou outro pesadelo, com provas de matemática intermináveis e uma música baiana tocando do lado de fora, não que eu ame música baiana, longe disso, eu detesto... ta, pode dizer que não acredita, mas essa música tava me chamando pra dançar e eu só imaginava mulatas, loiras e ruivas suadas mas só via a maldita prova de matemática. A gente passa o primário todo os professores falando na nossa cabeça que não existe raiz de número negativo, passamos o ginásio todo com isso na cabeça aí chega o segundo grau e algum gordo fedido, que não deve conseguir ver o pau por causa da barriga diz que a porra da raiz quadrada do número negativo é “i”. É isso mesmo. Raiz de número negativo é “i” putaquepariu!

Acordei. Pronto. Não quero mais falar mentiras. Não quero mais falar de mim. Você ta com uma cara estranha, parece que nem me conhece, parece que agorinha mesmo não tava pensando na gente, no que vai acontecer, no que você quer, no que você sente... Essa sua idéia de abrir portas até que é uma boa idéia, amor, mas você não acha que a gente pode inventar alguma coisinha bem inventada, assim, tipo um fim de semana todo na praia, caipirinha e um montão de “nossas verdades”, que é só com elas que vamos pra frente? Escuta? Não ta escutando? A Clara ta cantando afinal ...

10 comentários:

Anônimo disse...

Quem diria , um dia, que as músicas da Clara abririam-me as portas para um sonho ? Um sonho que hoje esqueço de sonhar para não sofrer. Apenas permito que seja um mistério que bate no coração...

Tô de volta!
Até!
Trapizonga.

Anônimo disse...

Trapizonga e Poeta.
A música devia ser então, Porta Aberta.

A porta abriu
E por mim passou
Sem falar saiu
E nunca mais voltou
Faz tanto tempo, meu amor
Que a porta eu quis fechar
Meu coração porém de dor
Aberto há de ficar.

Dela também:

Amor quando é amor
É todo bem da vida
É sentir prazer
É também sofrer
O bem de querer bem.

Que bom que vc tá de volta, Trapizonga(adorei seu codinome).
Bj

Anônimo disse...

Anônimo (coloque um apelido para eu poder distinguir dos outros tantos - rsrsrsrs),

Belíssima lembrança!
Esteja certo (a) de que ambas aplicam-se ao caso. Entretanto, a porta aberta às vezes gera uma sensação enlouquecedora...Um misto de esperança, tristeza e frustração. Procuro não me deter aos sentimentos ruins e tento encarar o presente como uma oportunidade de entender melhor a vida e os frutos de todos os desencontros.

Afinal de contas, é preciso viver e saber viver!

Até!
Trapizonga (obrigada pelo elogio ao codinome - rs).

Anônimo disse...

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida", já dizia Vinícius.
Fiquei comovida com sua história.
Vivo algo parecido.Não, acho que igual. É engraçado que as portas existem, né? Duro é coragem pra adentrar. Ou sair, sei lá. Depende do ângulo que se vê.Mas, tô aí. Não perco o pique de jeito nenhum.Tipo fênix, sabe?
Então,

Eu sei e vc sabe
que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste(dá pra mudar essa parte?)
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer(essa também!!!)
Que todos os caminhos
Me encaminham pra vc.
(V.M.)
Lindo. Com os devidos adendos.
Bj

Ah! Não tenho apelido porque não sei inventar um legal feito o seu. Eu achei muito gostoso falar Trapizonga,rsrs.
Bj

Thiago Cascabulho disse...

Eita... O blog virou Corazón Partido Social Club? hahaha
Já que é assim, envio pra vcs meu carinho na esperança de que tudo passe... E tudo passa mesmo, como diria qualquer vovó.
Beijos e abs!

Anônimo disse...

Nossa, Poeta!!!
Que frio vc. Tudo bem, cheirou novela mexicana, mas, pô!!! Cadê sua sensibilidade poética? Tô boba com vc.
Bj assim mesmo.

Anônimo disse...

E pra completar, deixo aqui o poeta que nos entende( a mim e Trapizonga).

"Todas as cartas de amor
São ridículas
Não seriam cartas de amor
Se não fossem ridículas."
...

Bj (sob protesto)

Anônimo disse...

Vovô Casca,

Falamos de Clara , de música, de portas , de sonhos e de amor , elementos presentes no "Texto antiiiiiiiiiiiigo"...
Isso aqui está longe de ser o muro das lamentações, pelo contrário, enxergo como um espaço democrático onde as pessoas expõem os seus sentimentos, com base nas suas próprias linhas.

Parabéns e continue a nos inspirar mais...

Até!
Trapizonga.

Anônimo disse...

De Dolores Duran, que Clara cantou:

"Ai, tua distância tão amiga
E esta ternura tão antiga
E o desencanto de esperar.
Sim, eu não te amo porque quero
Ai, se eu pudesse esqueceria
Vivo e vivo, só porque te espero
Ai, esta amargura, esta agonia."
...
Bj

Thiago Cascabulho disse...

Anônimo sem nome, já leu O Banquete de Platão?
Segundo o diálogo de Sócrates, o amor nao pode existir sem isso que vc descreve...
Leia e depois me diga o que acha!
Inté