De uma história linda do Cony que fala das lembranças:
Se ele viveu e morreu cheio de truques, de certa forma legou-me alguns deles. Foi sua herança, a melhor porque, entre outras coisas, única. Um desses truques foi me autodefender de memórias devastadoras. No caso dele, não apenas se defendia mas transformava a memória em aliada, fazia dela não apenas a sua testemunha mas a sua cúmplice. Como em qualquer herança, sempre se perde alguma coisa pelo caminho. Eu perdi essa capacidade de alterar o sentido, o eixo da memória. Sei destinar para o compartimento respectivo aquilo que me incomoda, mas falta-me a química para decantar o resultado. O máximo que consigo é segregá-la. ...
... Sem essas defesas, já me dou por pago ao circunscrever a memória a seus limites. Obedeço ao território traçado, eu aqui, ela ali - e chegamos a conviver razoavelmente, sem mortos nem feridos.
4 comentários:
Sempre tem uma lembrança que quer ser esquecida. Mas só consegue lembrar hahaha.
Oi, Ju! Como diria o grande J.G. Rosa no Grande Sertão: "Quem muito evita se convive". Beijo!
De uma história linda do Cony que fala das lembranças:
Se ele viveu e morreu cheio de truques, de certa forma legou-me alguns deles. Foi sua herança, a melhor porque, entre outras coisas, única. Um desses truques foi me autodefender de memórias devastadoras. No caso dele, não apenas se defendia mas transformava a memória em aliada, fazia dela não apenas a sua testemunha mas a sua cúmplice.
Como em qualquer herança, sempre se perde alguma coisa pelo caminho. Eu perdi essa capacidade de alterar o sentido, o eixo da memória. Sei destinar para o compartimento respectivo aquilo que me incomoda, mas falta-me a química para decantar o resultado. O máximo que consigo é segregá-la.
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Sem essas defesas, já me dou por pago ao circunscrever a memória a seus limites. Obedeço ao território traçado, eu aqui, ela ali - e chegamos a conviver razoavelmente, sem mortos nem feridos.
Bj
F. de Mello
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